domingo, novembro 12, 2006

O FUTURO DE UMA ILUSÃO


Olha, acho que muito longe não estamos. Um eletrodozinho colado com micropore, dando os comandos semelhantes aos que damos aos dedos e depois à linguagem escrita e depois ao teclado e depois... simplesmente da conexão neuronal ao processamento da máquina: escrever um texto, ler um texto, jogar, sair daqui, ir para lá, tudo ao mesmo tempo agora! "múltiplas possibilidades? Possibilidades de quê? Experimentação do quê? Pra quê? Pode ser experimentação de coisa nenhuma! Que dará em porra nemhuma!?"
Sejamos prudentes, prudentes, muito prudentes...
Prescindiremos da pele?
Afinal o que mesmo? Pra quê? Afinal o que fazer com esse corpo? O que faremos com isso que se perpetua pra trepar? E trepa ainda para perpetuar-se?!
(Por enquanto...)
Que carne é essa?
- Hei?!
- Que carne você come?
- Você come carne?
- O quê?!
- Você não come carne?

quinta-feira, outubro 05, 2006

Para ouvir Maria Bethânia

Enquanto a força das ondas bate violentamente em meus tímpanos ensurdecidos de tanta guerra, a gravidade das vozes me dá o alento de quem percorre distâncias impensáveis pelas estridências... faz sentir que através delas o corpo poderá enfim dizer o que quer e o que pode. Mas não páro de falar e falar e cantar e cantar e a gravidade é sempre ouvida como uma estridência incômoda em ouvidos que parecem sempre moucos e armados da estridência e do silêncio...

segunda-feira, setembro 04, 2006

AI, QUE FRIO!


Sim, estamos no Rio Grande do Sul. Sim, é inverno. Sim para o vinho, para a canja e para o chá. Mas o frio... nos deixa mais consciente da artificialidade dos calores: longe do fogo as narinas se ressecam de tantas estufas desumidificadoras, longe dos corpos, meu corpo se resseca? ou se disseca? em tempos de Feminices, estamos no aguardo da lá anunciada Revolução Masculina e passeamos na floresta enquanto seu lobo não vem.
O frio bate à porta de um corpo asmático, fóbico da geleira azul da solidão, sedento da mão do mar... mas meu coração tropical partirá esse gelo e irá!

sábado, setembro 02, 2006

FEMINICES

Hoje é dia de Feminices* e Diana disse: "a vida separa as pessoas, pra não separar só fazendo muita força". Entre tantas separações e reencontros ficam sempre as amigas, as mulheres da minha vida, estes seres da competição mas também do gesto espontâneo, da garagalhada, da ira, da lágrima. Existem muitas conhecidas, colegas, vizinhas, terapeutas... amigas, há poucas. Mas são muito, muito especiais. São donas das melhores lembranças, dos grandes acontecimentos. Estão lá e estão aqui. E hoje teremos peixe para nos levar a Florianópolis e vinho para nos levar a Veranópolis. Teremos torta de bolacha para adoçar bocas ferinas e Seu Jorge para todas as Carolinas...
*Filme de Domingos de Oliveira

sexta-feira, setembro 01, 2006

Os Sete Pecados Capitais e minha receita para cometê-los

Um toque de soberba,

a capturar olhares.

Um gesto de ira,

conquistando lugares.

Uma pitada de inveja,

para construir andares.

Uma certa avareza:

reter um olhar para libertar milhares

Um bom bocado de gula,

porque o rubor das faces vem dos manjares!

Um belo espaço para a luxúria:

até que os prazeres da carne inundem os ares...

Completa-se com preguiça à gosto,

pro vento, pro chamego, pra poesia, pros mares ...

E tudo pode ser preenchido com um oitavo pecado:

– Muita curiosidade! Para te curares

PRINCÍPIO DO PRAZER



pelo princípio do prazer
come-se o que bem entender
com mega-sena
ou sem...

pelo princípio do prazer
nada haverá para atender
acorda-se a hora que quiser
que nem neném

pelo princípio do prazer
bebe-se o vinho que aparecer
um cálice
ou cem

pelo princípio do prazer
a manhã pode não nascer
a noite é tudo
sem porém

pelo princípio do prazer
não haverá porque correr
a vida é agora
não há nada além

pelo princípio do prazer
eu nunca mais vou morrer
a vida é aqui
e todo mundo é alguém

quinta-feira, agosto 31, 2006

Olhozinho

Quando você olha
quando você olha
quando você olha no meu olhozinho
com seus olhos de
com seus olhos de
com seus olhos de jesus cristinho
o dia pára
a noite anda
se mal começa o dia finda a noite clara
a noite cessa
se o dia manda
e já começa a noite clara
o dia ainda
olhos santos
santos olhos
olhos de quem quer ver
o que ninguém vê
quer ver o que ninguém quer ver
furacão
avião
lamparina
sina
carnificina
e solidão

quarta-feira, agosto 30, 2006

Sonho de Ícara

Ok cyberspace!

Ok cyberspace! Chega de gavetas vomitando papéis sólidos cheios de história impublicável. Faz-se a hora das liquidezes, do tempo-hoje, da palavra-agora que amanhã já foi e ontem ainda não era.

Ontem? Ontem era dia de virar borboleta, mas virei entranha úmida de barata carne negra a me convencer da inutilidade dos gozos intelectuais. As entranhas inundadas do gozo das carnes esvaziavam-se de Rafaéis e Carinas... quantos medos me provocaram de suas caras carnes multicoloridas, tantas vezes indigestas diante de minh'alma faminta? Faminta continuo, faminta e famigerada... entre massas, gorduras e doces, faminta, sempre faminta: estômago infinito, entranha infinita!
E esse amor infinito sem alimento, sem olhar, sem espelho!

Hoje um oco de estômago cheio e entranha inchada: podem ainda empanturrar-se de qualquer coisa...

Amanhã: nova chance para as borboletas!