sexta-feira, setembro 25, 2009

estupro

o canto do olho direito roça um objeto: um baratouro medindo um palmo aparece bordejando a janela, acenando suas antenas para mim, mero réptil inofensivo... tenho formigamentos anais, colméias vaginais, zunidos clitorianos e um útero prestes a parir os cupins que devorarão as pedras do ancoradouro onde estão amarradas as redes de proteção. respiro pelas axilas, alguma guelra nasce ali, de uma coceira. amamentações cáusticas me alimentam. tenho pernas equinas que cavalgam os pedais alados do futuro, uma sede cloacal na garganta e tentáculos cerebrais que pescam o pensamento: ele vaza do xorume de um cardume que morreu na praia... um inconsciente seminal e combustível me estupra, e este corpo não o pede nem o recusa.

quinta-feira, setembro 10, 2009

bendita vontade de espelho


A alegria dos espelhos parecia querer guardar os instantes que as retinas roubavam nos vieses do olhar...

Por alguns momentos também eu quis reter as imagens como se fossem afetos,

como se fossem memórias,

como se fossem inesquecíveis só pelo fato de as batizarmos assim...

A fugacidade diz de sua própria potência...

A memória da pele!

(imagem sonora que passa agora: “tudo em você é fugaz, tudo você é quem lança! – Lança mais! – Mais!”).

Quem dera um mundo em que os espelhos não fossem suspensões,

em que memórias não fossem suspensões,

em que afetos não tivessem que ser suspensos por uma imagem.

Estou criando as saudades que eu quero ter!

Terei saudade!

Saudade!

*Imagem: Sabina, de A Insustentável Leveza do Ser