domingo, junho 24, 2007

MANIFESTO DA BOCA AZUL

Sim eu escrevi um manifesto! Não se preocupem, eliminemos qualquer odor de ressentimento, qualquer eco de palavras de ordem, porque sempre, em qualquer trabalho trata-se de liberar a vida lá onde ela é prisioneira ou de tentar faze-lo num combate incerto.

Pois bem, por entre os clichês de ‘gloss’álicas bocarras vermelhas e de verborrágicas bundas emborrachadas, clama por emergência o simulacro da boca azul!

- O quê? É um monstro, uma fantasia de carnaval, um ciborgue, um extraterrestre?

- Que sejam bem vindos!

Mas a boca azul há de emergir naqueles que bebem a vida no gargalo de uma garrafa de vinho e não dos que se empanturram das insaciáveis cervejas que já nascem abortadas por aí.

Saiamos tocados pelo encontro com os vivos vinhos.

Saiamos com eles, assim, de viés.

Andemos por aí, sem gloss nem chiclé, de boca azul, olho e orelha agudos, esquisitos esquizos, que nunca sabem bem onde põem o pé...



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Quem é esta outra que me espreita ali do espelho? Não tinha eu saído de gloss e batom? Aquela ali por acaso sou eu, de boca azul? Mas que boca é essa? Que vem assim se instalar nesta outra que me olha do outro lado de mim?

– Diz alguma coisa! – Fala! Pra que serve uma boca além de falar e comer?

– Pra andar!!! – grita Artaud lá do terceiro lado do espelho...

E eis que a tal boca azul ensaia um movimento.

Será que ela vai falar alguma coisa? Em gramelô dodecafônico, talvez? Será que vai devorar aquela que a espreita daqui?

Ha! E numa fração de segundo, eu desapareço...

Opa! Quem desapareceria?

Ou será que esta tal boca azul andará da minha outra boca, pra outra boca tua?

Que hálito é esse que ficou por aqui?

a contemporaneidade do sexo

Como seria o sexo de tempos desprovidos de imagens pululantes, intermitentes e onipresentes de “como fazer sexo”?
Foucault dizia que o cristianismo controlou o sexo fazendo falar dele, tornando-o o centro da discursividade. A psicanálise, quando desaprendeu a ouvir, seguiu seu caminho. Os tempos contemporâneos multiplicam as dogmas cristã-psicanalíticas: Não só se fala sobre como fazer ou não fazer sexo, mas se mostra ritmo, estética corporal e coreografia.
E isso sem falar em entrevistas com sexólogos; revistas femininas e suas “100 posições para enlouquecer um homem na cama e ter orgasmos múltiplos”; programas de TV que oferecem aconselhamento sexual e, por fim, o Ministério da Saúde dizendo “use camisinha!”

Camisinha?!
Caralho! Que liberdade sexual é essa?

quinta-feira, junho 21, 2007

Pra não esquecer de Nietzsche

‘... Está aberto o caminho para novas versões e refinamentos da hipótese da alma: e conceitos como “alma mortal”, “alma como pluralidade do sujeito” e “alma como estrutura social dos impulsos e afetos” querem ter, de agora em diante, direitos de cidadania na ciência. Ao pôr fim à superstição que até agora vicejou, com luxúria quase tropical, em torno à representação da alma, é como se o novo psicólogo se lançasse em um novo ermo e uma nova desconfiança – para os velhos psicólogos, as coisas talvez fossem mais cômodas e alegres; mas afinal ele vê que precisamente por isso está condenado também à invenção – e, quem sabe?, à descoberta.’

FRIEDRICH NIETZSCHE
In: Além do Bem e do Mal. Prelúdio a uma Filosofia do Futuro. São Paulo: Companhia da Letras. 2003. pág. 19/20.