terça-feira, fevereiro 10, 2009

o desejo é sempre de aventura

Um dia Jasão resolve dizer pra Joana* por que a deixou: "tu me exigias inteiro e intenso pra tudo, caralho! A outra não, ela fica lá do meu lado quieta e a vida passa sem fazer força".
Quem quer estar ao lado de alguém que não quer forçar a vida? Quando os casamentos ganharam esse significado medonho de descanso, de parada, de cessação da juventude?
Casamento há de ser a mais cruel das aventuras: o outro como aventura. Mas é insuportável querer o outro como aventura enquanto ele nos quer para descansar: "não, não quero ler o que tu escreveste; não, não quero saber por onde já andaste; não, não quero saber o que pensas; não, não quero ouvir as tuas propostas, não, não, não".
Então fica aí no teu apartamento com teus nãos que eu vou passear na floresta e dizer todos os sins que me forem possíveis.
(Marguerite Duras* já havia me avisado: "homens não suportam mulheres que escrevem", mas eu insisto, eu forço, eu publico para que a floresta invada teu apartamento, force tua vida com aventura e tormento, mesmo que permaneça teu medo de admitir que vens aventurar-te em meus escritos para não aventurar-te em meu corpo, afinal, hás de precisar descansar...)
*Jasão e Joana são os protagonistas da peça Gota D'Água de Chico Buarque e Paulo Pontes
*Marguerite Duras. Escrever. RJ: Rocco, 1994.