segunda-feira, agosto 29, 2011

tempo bom, tempo ruim

madrugada de tormentas regadas aos temporais medicamentosos dos que tentam ridiculamente se matar. Estatístico: as pessoas se matam aos domingos. Se estiver chovendo, o índice aumenta. Incrível como os psiquiatras enfiam na casa das pessoas a ferramenta da maioria das tentativas de auto-morte disfarçada de tratamento para melhor viver. Que vão à merda! Funcionários do fascismo da vida normal! Aos domingos, eles desligam os celulares. Eu é que sei dos que sofrem e de como gostaria de dizer: se queres morrer, morra! Como cuidar da vida de quem não quer viver? E tudo isso no meio de minhas próprias tormentas de auto-vida. Eu nunca quis tanto estar viva. Eu nunca tive tanto corpo. E o tempo ruim aumenta as cólicas de outra vida que afortunadamente não veio. Sorrio. Estou parindo meu próprio corpo, minha palavra, minha letra, meu orgasmo e espero sofregamente não sucumbir a esse desejo nefasto de parir crianças. Crianças que não poderão se matar para promoverem o sucesso da criação materna: filhos saudáveis, filhos saudáveis, filhos saudáveis, filhos rentáveis, filhos saudáveis, filhos suicidáveis, filhos saudáveis, filhos saudáveis, filhos capturáveis, filhos saudáveis...

terça-feira, março 15, 2011

Restos do Desejo

Eu quero almoçar na Churrascaria Na Brasa no domingo. Quero comprar um presente incrível pra minha amiga Gringa. Quero jantar no Bóris e tomar duas garrafas de Casa Silva e comer sobremesa. Quero fazer pilates e massagem. Quero passar um mês na Bahia e mergulhar em Taipu de Fora e comer as maravilhas da Zene à vontade e cobrir minha amiga Carol de Chandon. Quero viajar pro Uruguai com meu namorado. Quero os livros que preciso, sem ácaros nem riscos. Quero botas, sapatos, tênis e sandálias. Quero uma calça jeans. Quero queijo minas no café da manhã. Quero trocar as persianas da sala. Quero uma garrafa de grenadine. Quero ar condicionado. Quero uma boa camisa branca. Quero chuveiro a gás. Quero salada orgânica. Quero pintar o cabelo. Quero emoldurar os quadros guardados. Quero dar uma jóia para minha mãe e um amuleto para minha afilhada. Quero ter tinta na impressora. Quero faxineira toda semana. Quero oferecer um jantar para os meus amigos. Quero um belo corpete de renda com cinta-liga. Quero experimentar o catupiry da caixinha. Quero uma cama queen. Quero lençóis de percal. Quero ver um show da Bethânia. Quero isolamento sonoro nas janelas do quarto. Quero quitar as minhas dívidas. Quero mandar forrar a poltrona. Quero um pijama bonito para o inverno. Quero um prato para escutar meus discos de vinil. Quero mais discos de vinil. Quero uma bancada de granito para amassar meus pães. Quero obras de arte. Quero vasos maiores para minhas plantas poderem crescer...
De resto, tenho tudo!

segunda-feira, fevereiro 28, 2011

Por uma vida trágica

A vida é trágica, diria Nietzsche, tentando nos convencer do poder do acaso, de que a vida é algo que não podemos controlar, nem dirigir, tentando nos livrar das amarras do ressentimento, da vingança fria, do adiamento da vida para depois de nossa morte, amém... Tentando nos devolver a alegria de encontrar a vida nas surpresas e nas dores do caminho. Mas a palavra tragédia estampa todos os dias os nossos telejornais e nossas páginas policiais, arrancando a potência deste verbo de nossas vidas para disfarçar o crime. O que aconteceu com os ciclistas na José do Patrocínio não foi uma tragédia, foi crime! Assassinato não é tragédia, é crime! Pessoas morrendo por negligência de atendimento hospitalar não é tragédia, é crime!!!

segunda-feira, fevereiro 07, 2011

Por uma cena

Eu havia me sentado naquele bar com a solidão dilacerante daqueles que viajam sós a procura de... E com a decepção de quem vai passar uma tarde em Itapuã e não encontra a praia do Vinícius. A cerveja era ruim, mas eu a havia escolhido como minha marca de cerveja favorita, pois suas cadeiras promocionais não enfeiavam a praia. Eram pretas, quase chiques. Ao lado, a mais famosa barraquinha de acarajé. Pedi um, entre a fila de turistas. Havia outras barracas ao lado, mas a única que tinha fila era essa, portanto deveria ser o melhor. De fato era bom, bom por causa da pimenta. Comida baiana sem pimenta é ruim. Se não gosta de pimenta, vá ao Mc Donald's, meu filho. Alheio à fila de turistas, avistei-o. A semelhança com um gaúcho que eu havia beijado e não havia gostado era assustadora. Não podia desviar o olhar daquele homem. Será que é ele? eu pensava. E depois pensava: que diferença faz? Se o encontrasse em Porto Alegre não falaria com ele . Mas sua atitude negava qualquer semelhança com aquele gaúcho do beijo ruim. Apesar de louro, só podia ser baiano: vestia apenas um calção preto, furou a fila e pegou dois peixes secos. Nenhum turista comeria aquilo. Sentou-se na beira da cadeira, com os cotovelos apoiados nos joelhos, devorou aqueles peixes sofregamente com portentosas mordidas e protagonizou uma das cenas mais sexy da história... Ha! Mulheres... jamais se excitarão com revistas de homem pelado...