segunda-feira, dezembro 21, 2009

SONHO

Já pensei muito sobre sonhos... Já li muito também: Freud, Jung, Deleuze, Guattari, astrologia, crenças populares... Sonhos como reminiscências, sonhos como deslocamentos, como mitologia universal, como realização de desejos recalcados, como elaboração de restos diurnos, como produção inconsciente, como presságio, como simbologia... Acredito em tudo, um pouco.
Mas alguns sonhos têm capacidades especiais. Ficamos sentindo seus efeitos ao longo do tempo, como se tivessem sido corporalmente vividos, assustadoramente vívidos em sua capacidade de ressucitar os mortos. Por um lado a sensação de ter podido viver o impossível, por outro a raiva de não poder escolher viver mais e de fazer durar essa pergunta infernal, que fica querendo dizer algo, que fica fazendo memória onde tinha vingado, a duras penas, o esquecimento...
Eu achava que tinha esquecido aquela gargalhada ferina, aqueles olhos incisivos de quem nunca consegui desviar, aquela capacidade de perguntar exatamente sobre aquilo que eu tentava desesperadamente esconder... Lembro deles agora como se fosse hoje, "a primeira manhã que te perdi"...