quinta-feira, dezembro 06, 2007

algumas tristes e inevitáveis palavras de ordem...


Do que mais sentimos falta? Do que tivemos ou do que não tivemos? Por que sentimos dor? Pelo que sabemos ou ainda não sabemos? Os olhos verdes da Helô sabiam que eu não dizia a verdade e que precisava de um tarô... qual é a verdade? Verdade é o que está perto demais... não podemos estar perto demais, so closer, perto demais falamos verdades insuportáveis! A uma distância segura mentimos muito bem e continuamos amigos, casados, amantes! Quem quer estar seguro? Eu não sinto falta de você porque não suporto te ouvir falar! Por que no te callas? Por que vocês não desligam a televisão? Por que vocês não param de contaminar seus sonhos com essas imagens cafonas e impossíveis de televisão? Por que não nos amamos? Diz pra eles Piaf*, diz: - ame, ame, ame! Desliguem as tvs! Parem de transar como se os protagonistas dos filmes pornôs fossem os seres mais felizes do universo! Esqueçam a felicidade se ela lhes for ofertada como Éden a merecer, buscar e comprar e só então gozar... Parem de dizer que pensamento não ocupa espaço! Nada ocupa mais espaço do que o pensamento! Mas ele não quer ocupar, colonizar, lotear, construir e decorar... ele só quer ser pensado... mas tente pensar o que te ocupa, coloniza o teu desejo, loteia, constrói e decora... então, veja bem, caro leitor, futuro ex tele-espectador (aquele que espera à distância), não é bem um mero eletrodoméstico que eu sugiro que você desligue através das sutis palavras de ordem que por ora utilizo... Em tempos de amor saberei não gritar!


*Referência ao filme Piaf Um Hino ao Amor, sobre a vida da cantora francesa Edith Piaf

quarta-feira, setembro 19, 2007

Lipofilia & Lipofobia

Uma gorda triste senta no balcão da padaria... o que lhe resta é comer: um pastel, uma farta fatia de torta, uma Coca-Cola "normal". Ela precisa preencher o vazio da falta do amor. –Será que não tenho amor por que sou gorda? – pensa a gorda empanturrando-se do mais acessível dos prazeres: ali ao alcance de uns poucos reais pães dourados, tortas fartamente recheadas, doces e frituras... ela lembra do Jô Soares naquele velho vinil do Pluct Plact Zum “doce, doce / viver no planeta doce / veja que vida gostosa você pode aqui levar / você pode vir voando num planeta até sonhar / oh não, não tenha medo / não há perigo aqui / o pior que pode haver é você ter um piriri / oh yeah”. E tinha aquela outra do planeta das formigas... “mashmellow, chocolate, caramelo, chantilly”... Todas canções politicamente incorretas. Em tempos de "vida saudável", dão medo! E o sacrifício dos demais prazeres da vida? Quanto custa o desejo do outro? Ela tenta lembrar se alguma vez algum homem olhou bem dentro dos seus olhos como naquelas comédias românticas americanas em que o príncipe do baile desiste da gostosona burra e insensível para se dar conta que aquela feiosinha gente boa é que é a mulher da sua vida. – Será que vi muita TV e nada disso existe? – pensa a gorda já imaginando o que vai comer no jantar dali a umas duas horas. – Pizza ou X?! Mas a feiosinha sempre fica linda no final... O pedaço de torta é farto e ela já sente aquela sensação de estar cheia, completa, dolorida quando entra uma magra triste a procura da Coca Light "anormal", única ingestão que fará depois de duas horas na academia: spinning, esteira e musculação. Ela precisa preencher o vazio da falta do amor. Ela olha para a torta da gorda, sente um embrulho no estômago, tem nojo, não sabe se é da torta ou da gorda. – Credo! Não posso engordar! – pensa a magra. Ainda não tem o amor e vai pra casa correndo para perder mais algumas calorias. Enquanto corre, sente-se cheia, completa, dolorida... sacrifícios em busca do desejo do outro. E ela lembra daquela comédia romântica americana... – Nunca vi aquele olhar – E com mais uma anfetamina para colorir sua vida saudável aborta até a salada do jantar.

Puta que os pariu!

Quem afinal é a puta que os pariu?

Ser filho da puta neste país é lá algum defeito de reputação?

Deputados inimputáveis são, por acaso, filhos do cão?

E quem não quer ser filho da puta?

A puta é aquela que arruma pra você o melhor pai do país,

que, se não for um senador, pode ser um deputado!

Aí, suas contas serão pagas por um lobista muito bem cotado

Ele é só um filhinho de lobo, mas você é filho da puta! ...E do deputado!

Santa reputação é mamar nas tetas do estado!

A puta mãe há de povoar o país de filhos da puta inimputáveis!

E nós, os órfãos da democracia, contamos vergonhas incomputáveis

Em filas intermináveis

Computadores silenciáveis

E impostos impagáveis...

quarta-feira, agosto 22, 2007

PAULO


E nada importava...

não importava que tivesse sido há anos atrás,

não importava que tivesse sido por pouco tempo,

não importava que ele já estivesse no segundo casamento,

não importava terem sido apenas um olhar e duas frases:

tinha sido um reencontro com o mais lisérgico dos olhares...

E, dos últimos tempos, as duas melhores frases!


Fiquei ali por uma noite, respirando o mesmo ar,

apaixonada simplesmente por sua presença de oxigênio.

Aquele momento quase prescindia do toque:

respirar me apaixonava, seu ar me bastava!


O corpo ressurgiu e pediu um abraço:

- Paulo!

Era uma graça o que seu ar me alcançava:

Um homem capaz de suspender o tempo, o ar, a graça...

Um súbito encontro e eu, em outra dimensão, andava.

terça-feira, agosto 07, 2007

AMOR COM AMOR SE PAGA?


Eu não entendo que tudo tenha se capitalizado, mas aceito que trabalhemos pra ganhar dinheiro, que compremos papel pra escrever, comamos comida congelada pra jantar e ignoremos o pedido desesperado de um colono que nos pede dinheiro pra passagem de volta pra casa já que os vagabundos da capital roubaram tudo que ele tinha, pois parece que não temos muita escolha, só alguma resistência. Mas capitalização afetiva eu não aceito, não aceito, não aceito! Ta ligado?! Ô machistinha pós-moderno! Eu não me economizo, não! Ta entendendo? E não suporto quem se dá só um pouquinho porque não tem segurança no investimento, ou porque acha que o investimento pode ser de alto risco! Que é isso? Amor não gasta. Amor não se acumula. Amor não rende. E amor não se recusa! Na era das vaquinhas de caixinha eu sou vaca profana: jogo meu leite bom na tua alma e com chuva do mesmo bom tento inundar a alma de outros caretas!!! Evoé, Baby! Evoé!

Quadro: Gustav Klimt. Danae

sexta-feira, julho 27, 2007

Lucia Já Vou Indo


Lucia Já Vou Indo* era uma lesma gorda e vaidosa. Ela adorava festas, mas era uma lesma, chegava sempre atrasada. Às vezes, se atrasava algumas horas, encontrava todos bêbados dormindo pelos cantos, ou mordendo os lábios o suficiente para não conseguirem conversar com ela. Às vezes se atrasava uns dias e, em vez de chegar pro aniversário da amiga no sábado, acabava chegando pro almoço de família no domingo seguinte:
- Não Lúcia! Meu aniversário foi semana passada, mas entra estamos fazendo um churrasquinho, você almoça conosco!
Acabava conversando com a avó surda...
Às vezes se atrasava uns anos, e ao chegar à festa já não estavam lá seus amigos, eles tinham se casado, cuidado de seus bebês, ou simplesmente se cansado.
- Quem são essas pessoas? Que língua elas falam? Com quem posso conversar? - pensou Lúcia a beira da confusão mental, ou, para ser moderna, de um ataque de pânico. Viu alguém se aproximar, mas quando ia dizer um singelo 'oi' foi interrompida por uma língua abrupta em sua boca:
- Hey! Calma aí! Tu não vai perguntar meu nome?
- Pra que falar se a gente pode beijar?
Lúcia desejou profundamente que na próxima vez não se atrasasse anos, mas gerações, planetas, galáxias, a anos luz dali!
- Tchau! Já Vou Indo...

*Livro infantil de Maria Heloisa Penteado, um dos meus favoritos quando criança
* Quadro: Fernado Botero. Cama

domingo, julho 22, 2007

Mas...


E foi só uma noite, mas...

Ele é um menino, mas...
Eu perguntei se ele tava me procurando por aí
Ele respondeu: - desesperadamente!
E agora eu estou desesperadamente procurando por ele, mas...
Ele não atendeu.
Por que meus sentidos me enganam?
O tempo de espera faz com que passe as mãos em meus lábios como se pudesse tornar as lembranças mais próximas do corpo: o beijo na boca, as mãos nos cabelos, o olhar à luz da vela, o gosto do vinho, as palavras no ouvido...
Mais sentido, menos memória!
A memória enfraquece os sentidos, mas...
parece ser a única a mantê-los vivos.
Estarão vivos só em meu corpo?
Que marcas meu corpo é capaz de deixar no dele?
Encontro potente, mas....

quarta-feira, julho 18, 2007

Por Hoje



O corpo contemporâneo:
nunca tão ágil, nunca tão frágil
nunca tão durável, nunca tão fugaz...
Entre desastres e medalhas de ouro, um homem se esconde em belas metáforas, enquanto um povo vê que os mesmos que deixaram de protegê-lo são os que lhe tiraram as armas com que cuidava de si próprio.
Um país e sua história de sangue!

*Imagem: Medéia

domingo, julho 08, 2007

ESCOLHAS

Às vezes você toma atitudes. Sim elas são pensadas, ponderadas... Sim, você toma atitudes em resposta a atitudes que atingiram você porque você precisava se proteger, porque você entendia que não iam fazer você de palhaço, assim, tão fácil. E, às vezes, essas atitudes ainda agregam ponderação de como atingir as pessoas que você gosta o mínimo possível, fazer preservações e até polidezes... Simplesmente pra não quebrar tudo, pra não mandar todos à puta que os pariu.
Mas aí você percebe que as pessoas que provocaram sua atitude são as mesmas que você tentou proteger, e são elas mesmas que invertem todos os seus cuidados naquela atitude perversa que você teria tomado se não achasse que essas pessoas mereciam o respeito que elas não tiveram com você. De novo, você é o palhaço, talvez mais do que foi na primeira vez.
Amigos... quem são?
Será que voltarão todos a puta que os pariu?
Ou será que antes mandarão você?

segunda-feira, julho 02, 2007

Pour quois filme vous?

Pra provar que o mundo é esse Baixio das Bestas*?

Sem enredo, sem trama, sem argumento

tão violento...

que seja lá pra onde corrermos

teremos sempre um estupro como alento???!!!

*Filme de Claúdio Assis, assistido no encerramento do Cinesquema Novo

domingo, julho 01, 2007

AMOR FATI

Não sei bem de que se trata o presente, não sei se aquilo que vivo, vejo e digo é motivo pra desespero, orgulho ou apenas certo entusiasmo. E eu não estou falando da moda da falta de referentes e da baderna globalizada que confunde massificação com originalidade. Estou falando de não entender bem como viver este tal amor fati. Qual é, velho Nietzsche? Aceitar as coisas e não projeta-las para um futuro onde os desejos poderão se realizar... ser o superhomem agora... é uma boa idéia, mas ainda uma idéia, ainda Platão ainda ainda... Ainda não olho pra aqui e pra agora com a tolerância que gostaria. Velho Nietzsche, longe de estarmos além do bem e do mal, não estamos bem, não estou nada bem. Só tenho um amargo na boca, um resquício do corpo, o último fundamento... Morte ao fundamento! – dizia um orkutiano por quem me apaixonei... Pois é velho Nietzsche, como aceitar um tempo em que é mais interessante ouvir o que têm a dizer os perfis do orkut do que ouvir o que têm a dizer os perfis reais?

– E se eu te disser que to a fim de ti?

– Ta, e...

– Não sei eu to a fim de ti, to aqui te falando isso.

– Sei e...

– Tu não ta interessada?

– Tu disse alguma coisa pela qual eu deveria me interessar?

– Pois é né? É que eu sou assim mesmo, direto.

– Tão atraente como uma pergunta de vestibular.

– Tu trabalha amanhã de manhã?

– Não.

– Nem eu. Vamos sair daqui e dormir junto?

– É claro que não! Como é eu aceitaria um convite desses?

– Pois é por que tu aceitaria...

Mais tarde...

– Qual é a porcentagem de chance de tu me dar um beijo agora?

– Nenhuma.

– Mas por quê?

Tão estranho... o que parecia obviamente uma babaquice, de repente produz certo questionamento, afinal, por quê? Por que não? Afinal o que espero da vida é só uma projeção dos meus desejos num futuro inexistente... idealismo, ainda Platão, ainda ainda...

domingo, junho 24, 2007

MANIFESTO DA BOCA AZUL

Sim eu escrevi um manifesto! Não se preocupem, eliminemos qualquer odor de ressentimento, qualquer eco de palavras de ordem, porque sempre, em qualquer trabalho trata-se de liberar a vida lá onde ela é prisioneira ou de tentar faze-lo num combate incerto.

Pois bem, por entre os clichês de ‘gloss’álicas bocarras vermelhas e de verborrágicas bundas emborrachadas, clama por emergência o simulacro da boca azul!

- O quê? É um monstro, uma fantasia de carnaval, um ciborgue, um extraterrestre?

- Que sejam bem vindos!

Mas a boca azul há de emergir naqueles que bebem a vida no gargalo de uma garrafa de vinho e não dos que se empanturram das insaciáveis cervejas que já nascem abortadas por aí.

Saiamos tocados pelo encontro com os vivos vinhos.

Saiamos com eles, assim, de viés.

Andemos por aí, sem gloss nem chiclé, de boca azul, olho e orelha agudos, esquisitos esquizos, que nunca sabem bem onde põem o pé...



*************************************************************************************

Quem é esta outra que me espreita ali do espelho? Não tinha eu saído de gloss e batom? Aquela ali por acaso sou eu, de boca azul? Mas que boca é essa? Que vem assim se instalar nesta outra que me olha do outro lado de mim?

– Diz alguma coisa! – Fala! Pra que serve uma boca além de falar e comer?

– Pra andar!!! – grita Artaud lá do terceiro lado do espelho...

E eis que a tal boca azul ensaia um movimento.

Será que ela vai falar alguma coisa? Em gramelô dodecafônico, talvez? Será que vai devorar aquela que a espreita daqui?

Ha! E numa fração de segundo, eu desapareço...

Opa! Quem desapareceria?

Ou será que esta tal boca azul andará da minha outra boca, pra outra boca tua?

Que hálito é esse que ficou por aqui?

a contemporaneidade do sexo

Como seria o sexo de tempos desprovidos de imagens pululantes, intermitentes e onipresentes de “como fazer sexo”?
Foucault dizia que o cristianismo controlou o sexo fazendo falar dele, tornando-o o centro da discursividade. A psicanálise, quando desaprendeu a ouvir, seguiu seu caminho. Os tempos contemporâneos multiplicam as dogmas cristã-psicanalíticas: Não só se fala sobre como fazer ou não fazer sexo, mas se mostra ritmo, estética corporal e coreografia.
E isso sem falar em entrevistas com sexólogos; revistas femininas e suas “100 posições para enlouquecer um homem na cama e ter orgasmos múltiplos”; programas de TV que oferecem aconselhamento sexual e, por fim, o Ministério da Saúde dizendo “use camisinha!”

Camisinha?!
Caralho! Que liberdade sexual é essa?

quinta-feira, junho 21, 2007

Pra não esquecer de Nietzsche

‘... Está aberto o caminho para novas versões e refinamentos da hipótese da alma: e conceitos como “alma mortal”, “alma como pluralidade do sujeito” e “alma como estrutura social dos impulsos e afetos” querem ter, de agora em diante, direitos de cidadania na ciência. Ao pôr fim à superstição que até agora vicejou, com luxúria quase tropical, em torno à representação da alma, é como se o novo psicólogo se lançasse em um novo ermo e uma nova desconfiança – para os velhos psicólogos, as coisas talvez fossem mais cômodas e alegres; mas afinal ele vê que precisamente por isso está condenado também à invenção – e, quem sabe?, à descoberta.’

FRIEDRICH NIETZSCHE
In: Além do Bem e do Mal. Prelúdio a uma Filosofia do Futuro. São Paulo: Companhia da Letras. 2003. pág. 19/20.