sexta-feira, julho 27, 2007

Lucia Já Vou Indo


Lucia Já Vou Indo* era uma lesma gorda e vaidosa. Ela adorava festas, mas era uma lesma, chegava sempre atrasada. Às vezes, se atrasava algumas horas, encontrava todos bêbados dormindo pelos cantos, ou mordendo os lábios o suficiente para não conseguirem conversar com ela. Às vezes se atrasava uns dias e, em vez de chegar pro aniversário da amiga no sábado, acabava chegando pro almoço de família no domingo seguinte:
- Não Lúcia! Meu aniversário foi semana passada, mas entra estamos fazendo um churrasquinho, você almoça conosco!
Acabava conversando com a avó surda...
Às vezes se atrasava uns anos, e ao chegar à festa já não estavam lá seus amigos, eles tinham se casado, cuidado de seus bebês, ou simplesmente se cansado.
- Quem são essas pessoas? Que língua elas falam? Com quem posso conversar? - pensou Lúcia a beira da confusão mental, ou, para ser moderna, de um ataque de pânico. Viu alguém se aproximar, mas quando ia dizer um singelo 'oi' foi interrompida por uma língua abrupta em sua boca:
- Hey! Calma aí! Tu não vai perguntar meu nome?
- Pra que falar se a gente pode beijar?
Lúcia desejou profundamente que na próxima vez não se atrasasse anos, mas gerações, planetas, galáxias, a anos luz dali!
- Tchau! Já Vou Indo...

*Livro infantil de Maria Heloisa Penteado, um dos meus favoritos quando criança
* Quadro: Fernado Botero. Cama

domingo, julho 22, 2007

Mas...


E foi só uma noite, mas...

Ele é um menino, mas...
Eu perguntei se ele tava me procurando por aí
Ele respondeu: - desesperadamente!
E agora eu estou desesperadamente procurando por ele, mas...
Ele não atendeu.
Por que meus sentidos me enganam?
O tempo de espera faz com que passe as mãos em meus lábios como se pudesse tornar as lembranças mais próximas do corpo: o beijo na boca, as mãos nos cabelos, o olhar à luz da vela, o gosto do vinho, as palavras no ouvido...
Mais sentido, menos memória!
A memória enfraquece os sentidos, mas...
parece ser a única a mantê-los vivos.
Estarão vivos só em meu corpo?
Que marcas meu corpo é capaz de deixar no dele?
Encontro potente, mas....

quarta-feira, julho 18, 2007

Por Hoje



O corpo contemporâneo:
nunca tão ágil, nunca tão frágil
nunca tão durável, nunca tão fugaz...
Entre desastres e medalhas de ouro, um homem se esconde em belas metáforas, enquanto um povo vê que os mesmos que deixaram de protegê-lo são os que lhe tiraram as armas com que cuidava de si próprio.
Um país e sua história de sangue!

*Imagem: Medéia

domingo, julho 08, 2007

ESCOLHAS

Às vezes você toma atitudes. Sim elas são pensadas, ponderadas... Sim, você toma atitudes em resposta a atitudes que atingiram você porque você precisava se proteger, porque você entendia que não iam fazer você de palhaço, assim, tão fácil. E, às vezes, essas atitudes ainda agregam ponderação de como atingir as pessoas que você gosta o mínimo possível, fazer preservações e até polidezes... Simplesmente pra não quebrar tudo, pra não mandar todos à puta que os pariu.
Mas aí você percebe que as pessoas que provocaram sua atitude são as mesmas que você tentou proteger, e são elas mesmas que invertem todos os seus cuidados naquela atitude perversa que você teria tomado se não achasse que essas pessoas mereciam o respeito que elas não tiveram com você. De novo, você é o palhaço, talvez mais do que foi na primeira vez.
Amigos... quem são?
Será que voltarão todos a puta que os pariu?
Ou será que antes mandarão você?

segunda-feira, julho 02, 2007

Pour quois filme vous?

Pra provar que o mundo é esse Baixio das Bestas*?

Sem enredo, sem trama, sem argumento

tão violento...

que seja lá pra onde corrermos

teremos sempre um estupro como alento???!!!

*Filme de Claúdio Assis, assistido no encerramento do Cinesquema Novo

domingo, julho 01, 2007

AMOR FATI

Não sei bem de que se trata o presente, não sei se aquilo que vivo, vejo e digo é motivo pra desespero, orgulho ou apenas certo entusiasmo. E eu não estou falando da moda da falta de referentes e da baderna globalizada que confunde massificação com originalidade. Estou falando de não entender bem como viver este tal amor fati. Qual é, velho Nietzsche? Aceitar as coisas e não projeta-las para um futuro onde os desejos poderão se realizar... ser o superhomem agora... é uma boa idéia, mas ainda uma idéia, ainda Platão ainda ainda... Ainda não olho pra aqui e pra agora com a tolerância que gostaria. Velho Nietzsche, longe de estarmos além do bem e do mal, não estamos bem, não estou nada bem. Só tenho um amargo na boca, um resquício do corpo, o último fundamento... Morte ao fundamento! – dizia um orkutiano por quem me apaixonei... Pois é velho Nietzsche, como aceitar um tempo em que é mais interessante ouvir o que têm a dizer os perfis do orkut do que ouvir o que têm a dizer os perfis reais?

– E se eu te disser que to a fim de ti?

– Ta, e...

– Não sei eu to a fim de ti, to aqui te falando isso.

– Sei e...

– Tu não ta interessada?

– Tu disse alguma coisa pela qual eu deveria me interessar?

– Pois é né? É que eu sou assim mesmo, direto.

– Tão atraente como uma pergunta de vestibular.

– Tu trabalha amanhã de manhã?

– Não.

– Nem eu. Vamos sair daqui e dormir junto?

– É claro que não! Como é eu aceitaria um convite desses?

– Pois é por que tu aceitaria...

Mais tarde...

– Qual é a porcentagem de chance de tu me dar um beijo agora?

– Nenhuma.

– Mas por quê?

Tão estranho... o que parecia obviamente uma babaquice, de repente produz certo questionamento, afinal, por quê? Por que não? Afinal o que espero da vida é só uma projeção dos meus desejos num futuro inexistente... idealismo, ainda Platão, ainda ainda...