quarta-feira, dezembro 01, 2010

CASA DE VÓ*


Quando eu era pequena, ela morava longe. Vinha uma vez por ano de uma longínqua Paraná, com a bagagem cheia de ingredientes para as festas de fim de ano. E aí era aquela função de temperar, fazer recheios, sobremesas... E aquela casa, sempre fechada que eu visitava com a mãe para ver se estava tudo bem, se enchia de luz e gente...
Eu e os primos correndo pela casa e quase sempre indo parar no sobrado: lugar mágico com portas para esconderijos escuros, bonecas assustadoras, espelhos distorcidos e até um baú de fantasias! Cuidado com a escada! alguém gritava da cozinha.
No lote dos fundos havia um pombal e um parreral. Os verões eram para a feitura das chimias e do suco de uva coado em saco de pano. Minhas lembranças de infância da vó são lembranças de verão. E era assim a casa da vó, sempre uma caixinha de histórias pra fuçar: procurar uma coisa e achar outra.
Quando eu cresci ela voltou a morar por aqui e eu continuei a fuçar nas coisas dela, não mais procurando brinquedos, mas vestidos, botões, fitas, ajeitando a roupa da próxima festa, encontrando o retalho daquela renda que não existe mais... — Vó, dá um pontinho aqui? — Vó, dá uma costuradinha nessa faixa? — Vó, faz uma manta preta? Vó, faz uma manta rosa? — Uma verde? — Uma bege? — Uma colorida? — Mas tem que ser de croché!
E ainda é assim, a casa da minha vó, lugar com cheiro de sopa de manhã e de bolo de tarde, lugar de ajeitar as coisas, lugar de fazer croché, dos panos de prato aos sapatinhos de bebê, que agora são para as bisnetas...
Vó Emília, muito obrigada por tantos anos de vida!

*Texto lido no almoço de comemoração dos 90 anos da minha avó, em Veranópolis, 28 de novembro de 2010.

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