domingo, novembro 22, 2009

os discos

Justamente nos tempos de proclamação do fim do formato, a pedidos, faço uma lista, não dos melhores discos da história, mas dos melhores discos da minha história. Há grandes discos que ouvimos, sabemos que são bons, mas não duram, esquecemos, deixamos criar pó. E há discos que, uma vez ouvidos, nunca mais saem dos tímpanos, da memória, dos toca-discos, dos players, como se a repetição só os fizesse melhores, mais intensos, mais próximos. Esses são os que habitam essa lista, discos que marcaram o tempo com descobertas e desvios e na descoberta e no desvio permanecem...

Então, por ordem de aparição:

Falso Brilhante - Elis Regina, 1976. Reza a lenda que eu ouvi esse ao chegar, recém nascida, do hospital. Elis, a cantora da minha vida, a intérprete, a emocionada, a sem papas na língua, a especialista em repertório, esse disco é seu auge se entregando às guitarras.

Como Dizia o Poeta - Vinícius de Moraes, Toquinho e Marilha Medalha, 1971. É o velho Vina se entregando à Bahia. Deve ser o responsável pela sambista preta que nasceu cedo no corpo dessa gringa.

Meus Caros Amigos - Chico Buarque, 1976. O passaredo falava da paixão do pai e alegrava minhas curiosidades de criança. ‘Que passarinho é esse, pai?’ Mas ali outra pergunta, nunca se calou - O que será?

Que País é Esse? - Legião Urbana, 1987. 10 anos, férias de julho na capital e meu primeiro disco de rock. E a pergunta-título dura.

O Blesq Blom - Titãs, 1989. Depois de uma briga na noite de Natal por não ter gostado de uma sandália horrorosa presente das tias, aquele primo-punk abre mão de seu presente e me dá o último disco dos Titãs com o Arnaldo Antunes: isso sim era presente!

The Wall - Pink Floyd, 1979. Oitava série, junto com a descoberta do filme, o fascismo da escola e certo cultivo de uma estética suicida...

Waiting for the sun - The Doors, 1968 . An american prayer: drogas, botas cowboy, amantes bruxas, peyote, índios apaches, lagartos...

Acqualung - Jethro Tull, 1971. A flauta mágica, a trilha sonora perfeita pra subir a serra, de volta pra casa e pras lembranças dos tempos do Paiol, dos penhascos, das dores, das mortes...

Revolver – The Beatles, 1966. Sendo Beatles podiam ser vários, mas lembro quando os Beatles bateram em mim com a profundidade que eles merecem: foi com Eleanor Rigby. Na sequência viriam, Let it Be e Abbey Road.

In Throught The Out Door - Led Zeppelin, 1979. Empréstimo do Léo “all my love to you now”. E o baterista definitivo. Adoraria depois o II e o Physical Graffity.

Marisa Monte, 1988. Eu teria feito aqueles arranjos, eu teria cantado naquele tom, eu teria escolhido aquele repertório, coisa que a Marisa nunca mais fez... É meu disco da inveja, eu confesso. Apesar de outros grandes discos dela, nenhum outro caberia aqui.

Uprising – Bob Marley, 1980. Adoro, não canso de ouvir, gosto de tudo. Marco esse disco porque tenho um vinil da Paula Santana que apareceu lá por casa no início dos anos 90 e eu nunca mais devolvi.

A Fábrica do Poema – Adriana Calcanhoto, 1994. Poesia e sofisticação: uma viagem musical pela palavra.

Atom Heart Mother - Pink Floyd, 1970. A Psychodelic Breakfast: canções de ninar lôco...

A Divina Comédia ou Ando Meio Desligado - Os Mutantes, 1970. Brazilian music: canções pra acordar lôco

A Tabua de Esmeraldas, Jorge Ben, 1974. Marcando o especialíssimo, mítico e mágico período Zazauera. Salve Jorge!

Maria Bethânia, 1969. Minha ligação com ela é espiritual, ritualística, vociferante e inexplicável. “Sai, sai, sai! Boa noite, meus senhores!”

Bicho de Sete Cabeças vol. II – Itamar Assumpção e As Orquídeas do Brasil, 1994. Vindo de uma extemporânea São Paulo junto com o Plínio, esse disco marca o repertório das Mulheres que Chicam (grupo onde me aventurei a cantar). O Nêgo Dito e toda sua singularidade: ninguém parece com ele!

Transa - Caetano Veloso, 1972. O nome do disco dispensa comentários. Mas comentarei o violão de Jards Macalé: instrumento de sonoridade inconfundível, depois que o conhecemos nunca mais deixamos de reconhecê-lo. Só não se sabe se reconhecemos o violão ou o Macalé, ou se aquele violão não toca daquele jeito sem o Macalé... Veio a ser minha trilha sonora baiana na viagem do verão de 2010.

Pérola Negra – Luiz Melodia, 1982. Melodia transviado, roqueiro de morro... Cantaria em tributo esse disco, música por música, exatamente naquela ordem...

Acabou Chorare - Novos Baianos, 1972. Pra quem não quer mais ser hippie... "vou mostrando como sou e vou sendo como posso, jogando meu corpo no mundo, andando por todos cantos e pela lei natural dos encontros, eu deixo e recebo um tanto e passo aos olhos nus ou vestidos de lunetas, passado, presente, participo sendo o mistério do planeta..."

A Ópera do Malandro – Chico Buarque, 1971. Eu e Lucia, Eu e Fichinha, Eu e Vitória, Eu e Geni, Eu e o teatro...

Mar de Sophia – Maria Bethânia, 2005. De sua geração, a única que só fica melhor. Esse disco me ajudou a deixar Carol na Bahia, na beira do cais. Esse disco me faz "respirar todo dia. Agora!”

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