domingo, abril 25, 2010

ALICE

Aviso: Não leia se ainda não viu o filme. Não me responsabilizo pelos efeitos do texto.

Que Tim Burton é americano, everybody Knows. Mas que Tim Burton poderia se transformar em um american idiot ninguém previa, até o lançamento de Alice in Wonderland.
Lewis Carroll era inglês e nunca escreveu um livro maniqueísta, quiçá um romance cuja protagonista enfrentaria 'o mal', paramentada de armadura e espada, no pior estilo mocinha-heroína-quase-feminista, que se defende dos acontecimentos com argumentos egóicos do tipo "é meu sonho" e controla e desvaloriza o mundo fantástico com palavras de ordem paternas do tipo "nada me fará mal".
Alice é a personagem que mergulha nos paradoxos de um mundo sem moral. As cenas da queda na sala pareciam anunciar que Tim Burton havia entendido isso: não há em cima e em baixo, Alice cresce porque fica pequena e fica pequena porque cresce. O tempo passa porque Alice não sabe quem é e ninguém sabe... perder a identidade é a ética proposta por Lewis Carroll: "Cortem as cabeças!!! Hoje é o dia do seu desaniversário!!!" Mas Tim Burton a conserva em sua moral de rainha boa e bela contra rainha má e feia, com direito a trilha-climão-tensão chatíssima e sem direito a Franz Ferdinand e outros rocks anunciados que poderiam salvar esse filme de ser um blockbuster quase sonífero.
Com um texto original que permitiria um roteiro fantástico, Tim Burton prefere a prisão de um roteiro sem nenhuma surpresa e o nome de tudo isso é 'livre adaptação'.
E não aliviará a barra do diretor dizer que Alice é um blockbuster clichê porque é um filme Disney, pois o desenho animado produzido pelos estúdios dá muito mais vazão à fantástica fábrica de paradoxos de Lewis Carroll que o filme de Tim Burton. Disfarçado de adulto, é mais infantil que qualquer criança...
Nem tivemos festa de desaniversário!!!
Salva-se a impecável direção de arte, a sempre brilhante atuação de Jhonny Depp e as saudades de Big Fish, quando Tim Burton sabia que a divisão entre realidade e sonho de nada servia. A Alice de Lewis Carroll sabia, sabe e saberá, como qualquer criança.

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